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campo de ferias

Entrevista com Rita e Jorge da Quinta da Escola

Como surgiu a ideia da Quinta da Escola?

A Quinta da Escola foi criada em 2008 como parte de um projeto da Coopescola, um colégio em Lisboa. A ideia inicial era estabelecer um centro de educação ambiental ligado à escola, onde os alunos pudessem ter aulas num ambiente natural, fora do contexto tradicional de sala de aula.

O espaço começou por ser exclusivo para a Coopescola durante o ano letivo, mas, com o tempo, foi aberto a outras escolas. Mais tarde, passou também a ser utilizado para programas de férias durante o verão.

Até ao ano passado, a gestão da Quinta estava a cargo da Coopescola. Contudo, em março deste ano, houve uma mudança de gerência. Nós, que já trabalhávamos em parceria com a Coopescola, assumimos a gestão do espaço. Eu, os outros coordenadores e mais dois sócios adquirimos a Quinta, e agora somos nós os responsáveis pela sua administração.

O que torna a Quinta da Escola única e a distingue de outros campos de férias?

Acreditamos que o grande diferencial da Quinta da Escola está nas pessoas que aqui trabalham e nos momentos que proporcionamos aos miúdos. Esforçamo-nos por oferecer as melhores atividades, infraestruturas adequadas e, acima de tudo, uma abordagem única na forma de trabalhar.

Além disso, estamos localizados no Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros, um local único em Portugal, que permite uma verdadeira conexão com a natureza. Num mundo em que as crianças estão frequentemente imersas na tecnologia e no ritmo acelerado das cidades, proporcionamos um espaço onde podem desacelerar e explorar o ambiente natural.

Também valorizamos a interação com a comunidade local, como os jogos realizados na aldeia e o contacto com os mais idosos, o que enriquece ainda mais a experiência. Tudo isto contribui para criar um ambiente especial e verdadeiramente diferenciador.

Na vossa opinião, qual é o maior desafio que os campos de férias enfrentam atualmente?

Acho que o maior desafio é manter os custos de gestão dos campos de férias acessíveis, de forma a evitar preços que excluam muitas crianças de participar. Atualmente, alcançar este objetivo é mais difícil. No passado, o nível de vida em Portugal permitia que mais famílias tivessem condições financeiras para inscrever os seus filhos. Agora, embora haja maior divulgação, as possibilidades económicas são mais limitadas, e os campos de férias acabam por ser, infelizmente, uma experiência mais acessível a famílias de um nível socioeconómico elevado.

Antigamente, as empresas envolviam-se mais em proporcionar colónias de férias para os filhos dos seus trabalhadores. Apesar de vermos um ligeiro regresso dessa prática após a pandemia, ainda está longe de ser como era. Por exemplo, eu e o Jorge crescemos a participar em colónias de férias organizadas pelas empresas dos nossos pais. Hoje em dia, temos muitos particulares como clientes, mas isso reforça o desafio de tornar os campos de férias mais acessíveis a todos.

Outro desafio, mais interno, está relacionado com a forma como trabalhamos aqui. Uma das nossas regras é que os miúdos não usem telemóveis durante o dia. Para aqueles que já participam há anos, isto não é um problema pois entregam os telemóveis de boa vontade. Mas para os novos participantes, especialmente os mais velhos, pode ser difícil desconectar-se do digital e mergulhar completamente na experiência do campo de férias.

Enviamos esta regra com antecedência, no e-mail de preparação, para que as famílias saibam o que esperar. Explicamos que há uma hora definida para o uso do telemóvel, normalmente entre as 18h30 e as 20h, durante o horário dos banhos. Fora desse período, os telemóveis não estão disponíveis. Apesar de alguma resistência inicial por parte de alguns, os miúdos acabam por aceitar a regra e aproveitar a experiência. No final, conseguimos superar este desafio e mostrar-lhes os benefícios de se desligarem da tecnologia

Como é que a Quinta da Escola adapta os seus programas às necessidades dos jovens de hoje em dia?

Uma das nossas abordagens, que partilhamos frequentemente em conversas com os pais e em reuniões com empresas, é a flexibilidade do nosso programa. Embora tenhamos um programa base, ele raramente é seguido à risca. Porquê? Porque só conseguimos avaliar as características do grupo, como idade, personalidade, cultura e dinâmica, quando eles chegam.

Com base nessa avaliação, ajustamos o programa diariamente. Levamos em conta fatores como o nível de cansaço, a meteorologia e as necessidades específicas do grupo, para garantir que as atividades sejam sempre adequadas e eficazes.

Por exemplo, atualmente estamos a trabalhar com um grupo de crianças chinesas, e o programa foi ajustado para responder às particularidades culturais e interesses deste grupo. Este tipo de flexibilidade permite-nos proporcionar uma experiência personalizada e enriquecedora, independentemente do grupo que recebemos

Como é um dia típico de trabalho para vocês no campo de férias?

O nosso dia começa com o pequeno-almoço, habitualmente às 9h30. Depois disso, temos o “soltar a franga”, uma atividade de aquecimento matinal que dura cerca de 10 a 15 minutos, para ativar os miúdos e prepará-los para o dia.

De seguida, realizamos a atividade da manhã. No caso das colónias de verão, antes do almoço costumamos dar um mergulho na piscina. Se for noutra altura do ano, optamos por tempo livre, com jogos como matraquilhos, ping-pong ou outras atividades mais descontraídas.

Este tempo livre reflete a nossa filosofia de trabalho: queremos que os miúdos tenham a oportunidade de decidir o que fazer. Sentimos que, hoje em dia, as crianças estão constantemente orientadas, sem espaço para explorar a sua criatividade ou autonomia. Por isso, fazemos questão de incluir momentos em que possam brincar sozinhos ou em grupo, sem orientação direta, desenvolvendo a capacidade de serem independentes.

Depois disso, almoçamos, seguido de mais um período de tempo livre. À tarde, realizamos duas atividades principais, com um lanche a meio. No verão, uma dessas atividades pode ser na piscina. Após as atividades, temos a hora dos banhos, seguida do jantar. À noite, organizamos uma atividade noturna, encerrando o dia com uma ceia antes de dormir.

Como descreveriam o sucesso do campo de férias até agora?

Acredito que a Quinta está a crescer de forma sustentada. O nosso campo de férias começou como algo muito pequeno. Antes de assumirmos a gestão, chegou a ter turnos com apenas 10 ou 12 participantes. Agora, temos conseguido crescer de forma equilibrada e sustentável.

No verão, atingimos sempre a capacidade máxima do campo, o que é muito positivo. No entanto, o nosso próximo desafio é preencher a época baixa com atividades adicionais, para maximizar a utilização do espaço durante todo o ano.

No geral, considero que o crescimento tem sido bem sucedido e sustentado, com um planeamento cuidadoso e resultados positivos. Trabalhamos muito dentro da escola porque, até agora, tem sido difícil expandir esta visão para fora.

Como imaginam a Quinta da Escola nos próximos 5 anos? Algum projeto em vista?

Atualmente, já temos vários projetos em funcionamento ao longo do país. Trabalhamos na Figueira da Foz, na Costa da Caparica e no Porto durante todo o ano. À medida que surgem novas parcerias, estamos abertos a expandir para outras regiões, sempre com o foco em colaborar.

Acreditamos que o crescimento acontece em conjunto. Não fazemos nada sozinhos, e as parcerias certas são fundamentais para crescermos de forma sustentável. Quando conseguimos crescer e os nossos parceiros também, todos beneficiamos. No setor dos campos de férias em Portugal, sinto que há espaço para todos. Não encaramos outras entidades como concorrência direta, porque, se todos estivermos cheios, é uma concorrência saudável. Neste momento, vejo que há uma procura suficiente para todos os campos de férias funcionarem a pleno.

Quanto ao futuro, imagino a Quinta da Escola com mais parcerias, a crescer e a estar presente em várias zonas do país, e quem sabe, até no estrangeiro. Mas, acima de tudo, queremos manter a nossa filosofia: impactar os miúdos de forma positiva e contribuir para o seu crescimento e educação.

A nossa missão não é apenas proporcionar diversão, mas sim diversão com conteúdo. Queremos que, daqui a cinco anos, os miúdos que hoje participam nos nossos campos, e que nessa altura serão jovens adultos, sejam boas pessoas. E esperamos que a Quinta da Escola tenha desempenhado um papel positivo nesse crescimento.

O que difere a parceria com a Juvigo das demais?

A parceria com a Juvigo trouxe-nos, acima de tudo, culturas e contextos diferentes. Como vocês trabalham com o estrangeiro, temos recebido muitos miúdos de outras nacionalidades, o que é um excelente contributo para as nossas colónias de férias. Antes dessa parceria, o nosso público era maioritariamente nacional. Agora, com a vinda de crianças de diferentes origens, não só ampliamos os nossos horizontes enquanto equipa, mas também proporcionamos aos miúdos a oportunidade de conhecer outras realidades além da sua.

Além disso, valorizamos a forma como a Juvigo trabalha connosco. Vocês respeitam a nossa maneira de operar, sem impor mudanças, e têm promovido a Quinta da Escola de forma autêntica, sem exageros. Essa abordagem transparente reflete-se nas avaliações positivas que temos recebido, como nas reuniões realizadas com o Miguel.

Portanto, sentimos que esta parceria é muito positiva e acreditamos que estamos no caminho certo. É continuar a trabalhar juntos, mantendo este espírito de colaboração e autenticidade.

Algumas palavras finais para os nossos leitores?

Entre escolher a Quinta da Escola e outros campos de férias, acho importante que quem venha para cá saiba que a nossa principal aposta é no capital humano. Trabalhamos para oferecer as melhores atividades possíveis, mas o nosso verdadeiro foco está na formação dos monitores e no acompanhamento personalizado de cada participante.

Pode ser que todos os campos de férias tenham atividades boas ou até excelentes, mas acreditamos que o que realmente nos diferencia é o cuidado e a atenção que damos a cada criança ou jovem que passa por aqui. Queremos garantir não só momentos de diversão e atividades incríveis, mas também um acompanhamento próximo, quase como se estivessem em casa.

Por isso, quem escolhe a Quinta da Escola pode esperar muito mais do que atividades giras. No final do dia, o que nos importa é proporcionar uma experiência personalizada e humana, garantindo que cada miúdo se sinta acolhido e valorizado

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Joana

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